MINERAÇÃO, O QUE VAI FICAR DEPOIS: RIQUEZA OU DESTRUIÇÃO?

Por *Aldinei Leão e **João Paulo Dias

 

MEIO AMBIENTE

Rio Pardo de Minas

Muito se tem falado nos últimos meses nas regiões do Alto Rio Pardo e Serra Geral sobre minério, de ferro ou ouro. Jornais locais dão notícias de que um contrato bilionário já foi assinado entre nosso Estado e uma empresa multinacional para a exploração de milhões de toneladas de ferro por ano do nosso solo. No entanto, pouco se tem discutido ainda a respeito dos impactos sócio-ambientais que esta atividade pode causar. Afinal, para onde vai a riqueza? O que vai ficar depois da exploração?

Preocupados com essa questão, uma vez que Rio Pardo é o município onde se encontra a maior reserva de ferro da região, representantes do Sindicato dos Trabalhadores Rurais e da ONG O Girassol participaram no final do ano passado (2010) em Paracatu-MG de uma visita de intercâmbio, junto com lideranças sindicais, comunitárias e políticas dos municípios da Serra Geral, visando conhecer melhor o processo de exploração e os impactos gerados pela atividade mineraria.

Em conversas com moradores atingidos pela RPM (Rio Paracatu Mineração/Kinross) foi possível ouvir e sentir um pouco dos problemas enfrentados há quase 30 anos, desde que a empresa se instalou naquela localidade: Pobreza, doenças causadas pela poluição e pelos produtos químicos, mortes, casas rachadas por conta das explosões de dinamites, dentre outros.

O senhor Manoel, presidente de um bairro atingido, conta que a grande riqueza gerada pela exploração do ouro, na verdade, não fica no município, já que os “cargos importantes”, aqueles bem remunerados, não são ocupados por pessoas do município, restando apenas a exploração da “mão de obra barata” no trabalho pesado. “As riquezas são levadas para fora (Canadá), deixando no município um grande rastro de degradação ambiental e problemas sociais”, diz ele.

Outro grande problema relatado pelos moradores é o aumento assustador nos casos de câncer, segundo eles, causado pelos “venenos” usados na exploração ou liberados das rochas, como o arsênio, por exemplo. No entanto, relata João Paulo, “as doenças e mortes por câncer não aparecem nas estatísticas de Paracatu, porque as vítimas (funcionários) são atendidas em cidades como Brasília, por exemplo,” – uma forma de “mascarar” a realidade – e conclui: sessenta por cento dos casos de câncer atendidos em Brasília são de Paracatu”.

Muitas famílias que viviam na roça venderam suas terras por um preço relativamente baixo e migraram para a cidade. O resultado disso, somado ao grande número de pessoas que vieram de outros municípios, foi o surgimento de “favelas”. “Paracatu cresceu, porém não desenvolveu”, ressalta João Paulo da Silva Couto, integrante da Cáritas.

Não bastassem tudo isso, existe outro grave problema, que tem gerado medo e insegurança nas pessoas daquele município: a enorme barragem de rejeitos. Segundo o membro da Cáritas, não há nada que garanta que aquele gigantesco depósito de lama e resíduos químicos não vá se romper, o que causaria uma catástrofe inimaginável.

 Na oportunidade, também foi exibido um documentário intitulado “Ouro de sangue”, que relata esse lado triste da exploração.

O QUE FAZER?

Diante de tudo isso fica a certeza de que é preciso fazer uma profunda discussão sobre o assunto: criar Fóruns de debate, programas de rádio; conscientizar as pessoas sobre os benefícios e malefícios dessa atividade.

As nossas comunidades (principalmente as diretamente atingidas), associações, e demais entidades, precisam participar diretamente das negociações. Fazer um estudo sobre as condicionantes para a implantação desse ambicioso projeto e do EIA-RIMA (Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto ao Meio Ambiente).

É preciso pensar em Desenvolvimento, mas de maneira sustentável, sem agredir as pessoas ou a natureza. Em outras palavras: è nosso dever cuidar para que nossa geração e as próximas que virão continuem tendo acesso aos recursos naturais, como água, terra e ar, com qualidade e quantidade suficientes para se ter uma vida digna.

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9 respostas para MINERAÇÃO, O QUE VAI FICAR DEPOIS: RIQUEZA OU DESTRUIÇÃO?

  1. Helen disse:

    Gente… parabéns… adorei a matéria e o blog! É isso mesmo, precisamos utilizar dos meios alternativos de comunicação para divulgar o q os outros meios não dizem!!! Parabéns e boa sorte!!!

    Visitem também http://www.asaminas.blogspot.com

  2. dineileao disse:

    Obrigado, Helen!
    Quanto à matéria, peço aos que vem acompanhando de perto a questão (militantes dos STTRs, CAA, enfim, toda a rede) que atualizem os acontecimentos ai, afinal depois da referida VISITA DE INTERCÂMBIO A PARACATU, muita coisa vem acontecendo.

    Portanto, postem comentários, mande sugestões de matérias, sites relacionados, enfim…

  3. maciel disse:

    Parabéns pela matéria …. adorei!!
    Mais o que eu não entendo é porque o ouro que sai de Paracatu vai parar em cofres internacionais ?

    • dineileao disse:

      Maciel, antes de mais nada, obrigado pelo comentário.
      Isso se dá, pelo que nos relataram (moradores e membros da Cáritas de Paracatu), pelo fato do ouro ser explorado por uma empresa multinacional canadense (Kinross) e que, essa riqueza, ou grande parte dela é levada para o exterior. Aliás, é o que acontece, normalmente quanto a essas explorações, aqui no Norte de Minas, por exemplo, será a China a grande beneficiada.

  4. João Paulo disse:

    Diante do exposto precisamos nos organizar para que os problemas que aconteceram em Paracatu não aconteça aqui no norte de Minas, que nossas riquezas sirva para melhorar a qualidade de vida do nosso povo de maneira sustentáveis e não para enriquecer ainda mais uma pequena quantidade de empresas internacionais.

  5. Flor disse:

    Caro Dinei Leão, o buraco é por todo lugar, veja essa na Bahia…. supostamente eles dizem q vão fazer beneficios etc etc…. mas a coisa funciona de outro jeito, tenho uma amiga q foi fazer um projeto para diminuição de impactos ambientais e sociais…. na mesma reuniao de apresentação do projeto, em off, um dos responsaveis encontrou uma maneira de dizer: “escuta minha filha, aqui não tem direitos humanos não!!” … e imagina então os cuidados “ambientais”….

  6. dineileao disse:

    Flor, a respeito das promessas, por aqui, o filme já é repetido. Na década de 70, com o Eucalipto, prometeram “desenvolvimento”, “redenção”… o resultado: MUITO ESTRAGO, social, ambiental, cultural… e nenhum desenvolvimento. É triste, mas o ditado que diz que MINEIRO, SÓ FECHA A PORTA DEPOIS DE ROUBADO, por aqui, ainda tah pior, já que continuamos deixando a porta aberta!

  7. pedro leao disse:

    Parabens . muito bom o blog , e isso ai.

  8. Dinei,

    Boa tarde!

    incialmente parabenizo-o pelo Blog em razão do conteúdo e seriedade como trata as questões a que se dispõe.

    Então, fiquei surpresa com a notícia “MINERAÇÃO, O QUE VAI FICAR DEPOIS: RIQUEZA OU DESTRUIÇÃO?”, na medida em que não tinha idéia da grandeza dos projetos de exploração de nossas riquezas minerais.
    Gostaria de aprofundar o comentário, entretanto penso que são três as questões essencias que envolvem este tema.

    Um deles diz respeito aos licenciamentos ambientais, em especial o EIA.

    A Resolução do CONAMA que dispõe sobre o EIA, diz que é obrigatório realizar estudos para averiguar ou não a VIABILIDADE AMBIENTAL. Ocorre que até hoje ainda não vi um RIMA concluir pela inviabilidade ambiental de projeto algum. O EIA/RIMA, que em geral são compilações de trabalhos acadêmicos, levanta apenas os dados para discutir a VIABILIDADE ECONÔMICA, tudo no sentido de direcionar o RIMA para as descrever as condicionantes. E aí, técnicos do IBAMA, da FEAM e outros assinam em baixo concedendo licenças com condicionantes que jamais asseguram coisa alguma. Por sua vez, as pessoas diretamente interessadas são literalmente alijadas do processo, e recebem apenas uma “balinha” para acabar com o choro. Aqueles indiretamente interessados não associam os problemas ambientais locais com os efeitos cumulativos de tanto projetos mal elaborados e aprovados no grito e com ameaças daqueles que se opõem.
    Ou seja, não há qualquer comprometimento com a obrigação de não fazer, como determinado pela Convenção da Biodiversidade assinada pelo nosso País.
    A outra questão diz respeito à nossa vulnerabilidade e autodeterminação. Penso que a mineração é uma questão de Segurança Nacional e de estabilidade geológica do Território Brasileiro.
    Enfim, creio que não é mais possível entregar discussões como essas nas mãos do Parlamento. Cabe ao Povo romper com a omissão, o que vale dizer, romper com “braços cruzados”, com o “em cima do muro” e agir.
    Parabéns por contribuir com o debate. Na medida do possível coloco-me à disposição para contribuir com esta causa. Abs. Terezinha Souto.

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